Cannes Lions
20 A 24 DE JUNHO DE 2022
20 A 24 DE JUNHO DE 2022
Efeitos e consequências da Covid-19 no planeta não estão mais presentes entre os cases mais premiados; apesar disso, empatia e propósito social seguem como inspiração para criativos
Bárbara Sacchitiello
22 de junho de 2022 - 7h19
Um dos acontecimentos globais mais marcantes do século XXI, a pandemia de Covid-19 é assunto praticamente esquecido na edição de 2022 do Cannes Lions. O próprio retorno do Festival, que não aconteceu na Riviera Francesa em 2020 e 2021 justamente pela proliferação do coronavírus, já é um indício de que os tempos de isolamento e distanciamento social ficaram para trás. Na França, já há um bom tempo, o uso de máscaras deixou de ser obrigatório e nos corredores e salas do Palais des Festivals, local do evento, é raro ver uma pessoa utilizando a proteção facial.
Mas não é somente no comportamento das pessoas que a pandemia parece ter ficado para trás. Entre os principais premiados pelos júris das categorias, é raro encontrar uma peça que, de alguma forma, seja relacionada à pandemia de Covid-19. Nos dois primeiros dias do evento, em que foram revelados os ganhadores de 13 categorias, apenas um Grand Prix abordou a questão da emergência sanitária.
O comercial alemão “The Wish”, criado pela Serviceplan para a rede de supermercados Penny, conquistou o Grand Prix na categoria Film Craft ao abordar um aspecto forte da pandemia: o impacto emocional que ela causou nas famílias. A peça publicitária, lançada no período do Natal, mostra um filho e uma mãe conversando a respeito das festas de fim de ano. O garoto pergunta à mãe o que ela gostaria de ter no Natal e ela começa a descrever episódios que seriam naturais na adolescência do jovem, como ir a festas, chegar bêbado em casa e se apaixonar, mas que não foram possíveis de acontecer por conta da pandemia. Por fim, ela diz que seu presente de Natal seria que o filho pudesse ter sua juventude de volta. Assista:
Embora tenha sido premiado pelo júri pelo seu contexto, é importante destacar que Film Craf é uma categoria que olha mais para os recursos técnicos e visuais das produções, como fotografia, cenografia e enquadramentos. O tema, claro, também ajudou a cativar o júri da categoria, que concedeu à peça a premiação máxima da categoria.
Assunto ultrapassado?
Nos demais júris realizados nos dois primeiros dias de evento, o tema ‘pandemia’ praticamente não apareceu. Na segunda-feira, 20, durante a coletiva de Health & Wellness, categoria dedicada aos trabalhos de saúde e bem-estar, a presidente do júri, Patricia Corsi, chief marketing, digital e information officer da Bayer, chegou a dizer que, passados os dois anos mais críticos da emergência global, o que é possível notar, agora, são trabalhos que procuram ajudar a solucionar problemas sociais, econômicos e ambientais que podem ter sido acelerados pela pandemia.
Diferentemente de 2021, quando o case “Shutter Ads”, criado pela Publicis Milão para a Heineken, angariou vários Leões, inclusive Grand Prix, ao mostrar como a marca ajudou os comerciantes a encontrarem uma solução para manter seus negócios ativos durante a pandemia, neste ano, o tema da Covid não está destacado entre os cases.
“No meu júri, a aparição desse assunto foi zero”, diz Ícaro Doria, copresidente e chief creative officer da DM9, que participou da avaliação dos trabalhos da categoria Print. Segundo ele, os trabalhos da categoria destacavam um olhar mais empático das marcas para questões sociais, mas sem abordar diretamente o vírus ou a situação do planeta nos últimos dois anos.
Na categoria Print, o Grand Prix foi entregue ao case “The Elections Edition”, da Impact BBDO, de Dubai, para o jornal libanês Annahar. O case abordava a questão da democracia e usou o jornal como forma de protesto para conscientizar as pessoas e o governo do Líbano a respeito da importância da realização das eleições no país.
Gabriela Hunnicutt, fundadora da Bold e jurada da categoria Outdoor, também não se recorda de ter visto trabalhos que trouxessem diretamente a questão da Covid, mas salienta que a disposição das marcas em combinar a geração de negócios com a proposta de auxiliar, de fato, alguma questão de cunho social foi marcante no júri.
Nem Covid, nem guerra
Marco Giannelli (o Pernil), chief creative officer (CCO) da AlmapBBDO, que participou do júri da categoria Desing, cujos resultados foram divulgados nessa terça-feira, 21, também disse que, em sua categoria, o assunto Covid quase não apareceu, “Em Design, especificamente, não tínhamos cases que falassem da pandemia e nem do mundo nesse contexto pós-pandêmico. Mas, conversando com jurados de outras categorias, sei que o assunto da pandemia apareceu de forma mais forte”, alerta.
Nesta quarta-feira, o Cannes Lions divulga os resultados de outras sete categorias. Entre elas, está Creative Commerce (que, até o ano passado, levava o nome de Creative eCommerce). A mudança feita pelo Festival foi interpretada como uma maneira de contemplar os trabalhos que trouxessem soluções às marcas que tiveram seus canais de vendas interrompidos ou modificados pela pandemia. Então, é possível que na noite dessa quarta-feira, 21, os cases premiados tragam a pandemia para o centro das ideias.
Pernil alerta que também notou que outro tema que imaginava encontrar refletido nos cases de Cannes – e que, até o momento, apareceu de forma tímida – foi o da Guerra na Ucrânia. Em Design, ele diz que havia criadas no país, que até utilizavam o contexto emocional do conflito, mas não de forma tão evidente.
Apesar da observação do CCO da AlmapBBDO, um case desenvolvido totalmente contexto da Guerra na Ucrânia foi vencedor de Grand Prix. A categoria Digital Craft celebrou o trabalho “Backup Ukraine”, que utilizada um aplicativo e realidade virtual para que as pessoas, na Ucrânia, tirassem fotos de monumentos, edifícios e construções do país. Pela tecnologia, as imagens eram transformadas em uma reconstrução virtual que visa preservar a memória do país, já que várias cidades e locais foram devastados pelo conflito com a Rússia, apagando, inclusive, pontos e locais históricos.
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