Cannes Lions
20 A 24 DE JUNHO DE 2022
20 A 24 DE JUNHO DE 2022
Ganhadora do LionHeart, ativista pela educação falou no palco do Cannes Lions que confia no poder dos jovens de transforarem suas comunidades e o mundo por meio do ativismo e da coletividade
Bárbara Sacchitiello
23 de junho de 2022 - 14h40
É difícil olhar a trajetória e o currículo de Malala Yousafzai e acreditar que a garota tem apenas 24 anos. Ativista global pela causa da educação; pessoa mais jovem do mundo a receber o Prêmio Nobel da Paz; graduada em Filosofia, Política e Economia pela Universidade de Oxford; fundadora da entidade Malala Fund; escritora; criadora da plataforma de conteúdo Assembly e, como ela gosta de se de definir, uma contadora de histórias.
A potência da jovem paquistanesa tomou conta do palco do Teatro Lumiére, no Palais des Festivals, nessa quinta-feira, 23, local em que ele veio não apenas para falar, mas para pedir a amplificação das vozes de quem ela espera que atuarão pela melhoria do mundo: os jovens. Malala foi a escolhida do Cannes Lions para receber o LionHeart em 2022, troféu especial concedido pelo Festival para as pessoas que estão gerando mudanças significativas no mundo.
Assim que subiu ao palco, junto com a chief marketing officer da Vice Media, Nadja Bellan-White, ela falou do tema que a alçou aos holofotes de todo o mundo: a luta por dar às meninas o direito de ir à escola. “Sabemos que não é fácil garantir que 130 milhões de garotas de todo o mundo tenham acesso à escolha. Mas precisamos colocar as meninas no centro das conversas mais importantes porque somente a educação pode ajudar a solucionar questões urgentes do mundo, como a redução da pobreza, as mudanças climáticas e as desigualdades sociais”, pontuou.
Antes de ser ativista, Malala diz que sempre foi uma contadora de histórias. Foi dessa forma que ela ficou conhecida no mundo ao criar um blog, aos 11 anos de idade, para contar sobre a rotina dela e das demais garotas de sua escola que, de um dia para outro, foram impedidas de continuar os estudos assim que o regime do Talibã tomou conta do Vale do Swat, no Paquistão. Malala narrava as tentativas de luta para continuar estudando, mesmo em meio à repressão, e acabou sendo vítima de um atentado a tiros, quando voltada da escola escondida em uma van.
“Sempre fui uma contadora de histórias e acabei tendo a consciência de que a educação era um privilégio a que muitas meninas não têm acesso, seja por diferentes questões de seu país, pela cultura, infraestrutura, falta de transportes ou outras questões. Lembro de quando o Talibã chegou e tirou nosso direito de ir à escola e que meu irmão colocava o uniforme para ir estudar, mas eu não”, lembrou a ativista a respeito do passado.
Essas lembranças serviram de combustível para a jovem transformar sua história em uma semente de transformação por meio da Malala Fund, entidade criada por ela com a proposta de, por meio de informação, tecnologia e suporte, colocar meninas de todo o planeta no caminho do aprendizado.
Além das parcerias com empresas, algo que ela classificou como muito importante tanto para a fundação como para o posicionamento das companhias em prol de um mundo melhor, a Malala Fund procura disseminar conhecimento às meninas por meio da informação. A ativista citou a plataforma de notícias e newsletter Assembly, que propõem uma conexão entre meninas de várias partes do mundo. “O Assembly fala sobre vários temas, como questões de gênero, saúde mental e indica para as meninas como elas podem ter voz e atuar para provocar mudanças em suas comunidades. As meninas são inovadoras, líderes e porta-vozes e, com a tecnologia, podem fazer mudanças importantes”, disse.
Muito otimista e confiante no poder de transformação das novas gerações, Malala contou que esteve na Suécia recentemente, junto com a também ativista pelo meio-ambiente, Greta Thunberg, e que se impressionou ao ver meninas empenhadas em lutar por um futuro melhor para si e para o mundo.
Para que isso seja possível, reforça, só há um caminho. Não podemos mais impedir que garotas sejam impedidas de aprendidas, seja por questões culturais, religiosas ou qualquer perspectiva. Apenas a educação fará com que esses jovens sejam transformadores, tenham vozes e sejam colocados na mesa para falar sobre um futuro melhor para suas comunidades, para a economia e para o mundo”.
Por fim, sob muitos aplausos da plateia, Malala falou sobre a importância de combinar as atitudes individuais com a consciência coletiva. “Quando uma pessoa dá um passo, outras se juntam. É preciso começar algo, ter a iniciativa, mas é importante que outras pessoas apoiem e que a mudança possa acontecer coletivamente. Lembro dos tempos em que começamos fazer nossa militância no Vale do Swat: não éramos organizados, não tínhamos suporte financeiro nem nada. Tudo o que tínhamos era o poder de falar. Não perdíamos a oportunidade de falar com a mídia, de aparecer diante das câmeras, aos jornais. Aparecemos porque queríamos que as pessoas soubessem o que acontecia no Swat. Nunca dá para desprezar o poder individual que temos, mas é que preciso que as mudanças aconteçam pelo poder da comunidade”, destacou.
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