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Cannes Lions

20 A 24 DE JUNHO DE 2022

Análise Glass: Do viés político a ações de encorajamento

Gal Barradas comenta o shortlist da 4ª edição do Glass Lions – com o sarrafo lá em cima, afinal, o vencedor do Grand Prix do ano passado foi “Fearless Girl”


12 de junho de 2018 - 11h04

Por Gal Barradas

Gal Barradas

Este é o 4º ano do Glass Lions, cujo objetivo, na definição do próprio festival, é celebrar o uso da criatividade em favor de mudanças culturais.

Confesso que ao começar a assistir os cases deste ano, o sarrafo estava lá em cima, por causa do “Fearless Girl”, case vencedor do ano passado, criado pela McCann New York para a gestora de fundos Street Global Advisors, que teve repercussão global e permanece lembrada por todos.

Vamos ao shirtlist deste ano que teve 27 cases de 12 países, sendo 3 do Brasil. Como são muitos cases, meu critério para comentar mais profundamente alguns foi falar sobre os que me impactaram mais, mas sem necessariamente criar um ranking, ok?

Começo pelo “Pregnancy Pause”, movimento criado pela Mother USA. Todo mundo sabe que no mundo inteiro há preconceito contra a mulher que trabalha e decide ter filhos. Mulheres são pressionadas a deixar o trabalho criando um gap no seu curriculum, o que também é muito mal visto no mundo corporativo. A ideia deste movimento é fazer com que as mulheres assumam como importante o período em que saíram do trabalho para exercer este papel tão importante como uma função tão importante quanto qualquer outra que possam ter na sua vida profissional.

Meu comentário a esta situação é que ter um filho é ser responsável pela educação primária, primordial, de valores de pessoas que amanhã estarão sentadas ao seu lado no mercado de trabalho. Tenho certeza de que se você tem colegas de trabalho ou chefes que têm problemas de educação ou de valores, você começará a pensar nisso.

Outro case é o do “Rape Tax”, movimento de assistência às vítimas de estupro, criada pela Area23 USA, da rede FCB. As vítimas de estupro nos EUA, além de viver esse drama, têm que encarar pesadas contas para cuidar da sua saúde, como prevenção a doenças, tratamento dos traumas etc. Aqui que no Brasil, estamos melhor assistidas. Há uma lei brasileira que poucos conhecem que garante à mulher vítima de estupro o primeiro atendimento gratuitamente e com protocolo-padrão em qualquer hospital ou posto de saúde. Chamar a atenção para esta dupla crueldade me parece de alto impacto.

Mais um case com viés político é o “Tampon Tax”, criado pela BBH London para o Tesco, que assumiu os impostos sobre os absorventes femininos, trazendo um benefício permanente. Assim como no Brasil, há pesadas taxas sobre este item de higiene, criando um peso especificamente no orçamento das mulheres.

O case da DDB Mumbai para J&J, que observou que o período menstrual, é um estorvo para as garotas e mulheres, é, por outro lado, visto como um alívio para as mulheres que têm o sexo por profissão. A ideia da J&J foi capacitar estas mulheres para outras profissões nos dias em que elas estavam no seu período menstural, fazendo com que pudessem escolher mudar suas vidas.

Entre os finalistas que mostravam questões de comportamento/encorajamento, gostei muito de dois cases brasileiros: um deles é o da Ogilvy São Paulo para Schweppes mostrando quantas vezes as mulheres são abordadas fisicamente na balada. Os vestidos eram uma ferramenta de verificação quantitativa. Quando mostramos números, sempre conseguimos levar as pessoas a um outro nível de atenção, não é verdade?

Outro finalista brasileiro é a ação da Africa para a Vivo/Telefonica, mostrando como as gamers são xingadas e atacadas no ambiente online. Os garotos foram convidados a usar nick names femininos para sentir na pele o que as garotas passam. No Brasil, estas garotas são muito jovens e estão em nível internacional de competição e empreendem chegando a ter dezenas de funcionários nas suas equipes. Acho a ação um soco no estômago de qualquer gamer de qualquer parte do mundo.

Ainda sob a abordagem de comportamento/encorajamento, achei bem aderente a ação da Ogilvy Toronto para Baby Dove. É comum as mães serem pressionadas a seguir certos padrões e a abrir mão de certas características, quando, na verdade, uma mãe será boa se estiver realizada com aquilo que ela é. A melhor mãe do mundo é a mãe feliz. Tomara que este seja mais um pré-conceito desmantelado.

Nos cases com abordagem à violência contra as mulheres, achei excelente a ação “As notícias que você precisa ver”, do POWA South Africa. Um jornal chamado Daily Abuse dava conta dos casos numerosos e terríveis ocorridos no dia anterior. Mais uma vez, a verdade escancarada dando um tapa na cara de todos.

Peças realistas e emocionantes com histórias bem contadas são: “Axe is it ok for guys”, da 72andSunny Amsterdan, sobre tudo aquilo que preconceituosamente e supostamente homens não deveriam fazer, mas podem;

“Samsung It’s a Girl”, da Cheil India, que faz despertar o orgulho de um pai por uma filha, num país onde ter filhas mulheres não é motivo de comemoração;

“We can do it”, criado pela 180LA para University of Phoenix, quebrando o preconceito de que mulheres não são boas em exatas;

e “Love Over Bias”, da W+K Portland para P&G, tentando trazer o mundo para as mesmas lentes das mães, ou seja, sem preconceitos.

Achei interessante também o caso Pablo Fan Feat da JWT São Paulo para a Coca-Cola, ter sido inscrito na categoria sob a ótica de “incondicionalmente sem preconceito”. Bacana.

Enfim, quando falamos sobre questões relativas a gênero e diversidade, há inúmeros assuntos em pauta e acho que o shortlist deste ano é uma boa mostra da diversidade de problemas que o mundo enfrenta.

É bom vê-los espelhados em histórias bem contadas e ações que serão reverberadas por aí. A criatividade é que faz o mundo andar pra frente. Seu uso pode e deve ajudar a sociedade a alcançar outros níveis de compreensão e desenvolvimento.

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