13 de junho de 2018 - 9h17

É sempre inspirador ir a Cannes. As vistas, o clima, os trabalhos enchem os olhos e a cabeça. É quase uma renovação de votos com a profissão que escolhi.

Mas, esse ano espero que seja bem mais do que isso. O momento desafiador que a nossa indústria vive já está presente em Cannes há algum tempo, mas talvez tenha chegado no seu auge ano passado com as declarações da Publicis, importantes anunciantes e executivos da indústria questionando a relevância do Festival. Do seu formato, categorias, até mesmo à sua localização. As críticas refletem um questionamento sobre esse ritual da criatividade. Se ele tem capacidade de se transformar tanto quanto a nossa
sociedade está se transformando.

Essa dualidade do mundo (do como éramos felizes), e do que podemos ser, sempre conviveu em Cannes. Mas, não há mais espaço nem tempo para a nostalgia. Temos que viver a excitação do que ainda está pra acontecer, de todo o potencial que ainda temos.

Em muito momentos, o Festival achou que era sobre incorporar mais tecnologia, mas parece estar entendendo (assim como nós), que as transformações que estamos vivendo são mais profundas e estruturais. Um Festival que sempre ajudou a ditar cultura, está tendo que correr atrás dela para se tornar mais inclusivo, diverso e parte dela. Está entendendo que as discussões são muitas vezes difíceis e necessárias, que é preciso mexer nas crenças e verdades.

Rituais são fundamentais para seres humanos, eles nos dão sensação de pertencimento, constroem laços, ciclos. Mas para se manterem relevantes, os rituais precisam incorporar novos significados e se atualizarem (vide o recente casamento Real). A indústria precisa do seu ritual de celebrar a criatividade, e que ele incorpore cada vez mais novos significados e mostre as possibilidades da comunicação nesse mundo que não pára de se transformar.