24 de junho de 2017 - 12h30

O Cannes Lions ainda é um evento de e para publicitários. Entendo que está se tornando um festival de criatividade, mas ainda tem um caminho a trilhar. É muito bem organizado, tudo de altíssimo nível, mas os custos são muito altos e o conteúdo ainda muito voltado para o mercado ATL. Agências de brand experience / Live Marketing de qualquer lugar do mundo não tem como participar, simplesmente porque não tem como arcar com os custos de incrições, passes, hospedagem, etc. Ouvi de algumas pessoas mais experientes que algumas agências chegam a gastar em torno de 2 milhões de dólares por ano!! Não é à toa que o grupo Publicis anunciou que não inscreverá nenhum trabalho ano que vem. Segundo eles, é uma economia de pelo menos 20 milhões de dólares. É muito dinheiro… Dá para comprar algumas agências de Live Marketing por ano.

O conteúdo é interessante, mas não chega a ser um TED, apesar de valores comparáveis.

Eu vim ao festival pela oportunidade de palestrar junto com Vik Muniz e Daniela Thomas. Foi muito bom. Realmente valeu à pena. Compartilhamos um pouco do processo criativo das aberturas dos Jogos Rio 2016 e como elas impactaram a auto-estima dos brasileiros e a venda de ingressos dos jogos. Também falei da importância do conceito e do propósito bem definido para chegar numa execução que toque o coração das pessoas, criando conexão emocional. Cada detalhe visto nas cerimônias estava ligado ao conceito ou a mensagem que queríamos passar. Os exemplos das cerimônias servem, na verdade, para qualquer evento ao vivo, não importa o tamanho. O nosso grande desafio é “provar” o retorno do investimento num mercado cada vez mais ditado pela exigência de números para tentar “provar” o seu valor. Nessa área, isso simplesmente não é possível, mesmo que seja óbvio o impacto causado.

De um modo geral, vi algumas palestras interessantes, mas poucas falando de criatividade ou compartilhando processos criativos. Acho que o futuro do Cannes Lions é ficar de fato mais aberto para outras áreas de criatividade e tornar o conteúdo mais acessível. Talvez assim fique menos dependente de grandes grupos de comunicação e, ao mesmo tempo, mais atrativo para todo o mercado de comunicação.