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Cannes Lions

20 A 24 DE JUNHO DE 2022

O festival da coragem

"Um dos exercícios que pratico ao ver uma campanha pronta é tentar calcular a quantidade de riscos envolvida naquele trabalho"


19 de junho de 2017 - 8h46

Um dos exercícios que pratico ao ver uma campanha pronta é tentar calcular a quantidade de riscos envolvida naquele trabalho.

Afinal, são eles e como os superamos que nos permite colocar trabalho ótimo na rua.

Cada campanha é um empreendimento que pode produzir dois resultados: o
sucesso e o fracasso. Levando em consideração que se for médio o resultado é em si um fracasso.

Acabei de ver uma peça muito interessante. O Grand Prix de Pharma. A ideia que veio da Índia, foi impulsionar e controlar a vacinação
das crianças através de uma pulseira de contas para elas. Cada conta, uma vacina. Cada vacina uma cor. Uma “Pandora” da saúde. Um sucesso!.

E me pus a fazer o exercício de tentar encontrar os desafios de aprovação que o diretor de marketing teve para aprovar e veicular essa ideia.
– É um objeto de desejo “uma pulseira” com um significado. Ótimo.
– A pulseira impede que as mães esqueçam quais vacinas a criança tomou. Muito bom.
– As crianças, ao verem contas que ainda não tem, devem perguntar como fazer para conseguir uma. A resposta: é só tomar a vacina.
Fiquei imaginando a quantidade de crianças pedindo as suas mães para serem vacinadas. Perfeito.
– A pulseira levantou o assunto entre mães, crianças e departamento de saúde. É isso aí.

Mas a peça está premiada e pensamentos assim vem primeiro.
Ao continuar o exercício, consigo também entender os comentários que devem ter surgido contra a ação:
– “Vacina é um negócio muito sério. Pulseiras não”. Provável.
– “ Não é uma pulseira que vai fazer a mãe vacinar seu filho. A mãe precisa ter consciência, não trocar a saúde por um objeto”. Sensato.
– “E se as crianças não gostarem?”
– “ O filho pode querer a pulseira, mas quem leva pra vacinar é a mãe. A criança não é nosso publico, por isso, a pulseira é um ERRO”. Provável.

Como dá pra perceber alguém teve muita coragem em contra argumentar, investir e mobilizar recursos para criar a ação e executá-la.
Mesmo com argumentos tão fortes e corretos contra a ideia.
Não é fácil comunicar. É preciso ter coragem mesmo.
O risco da agência é grande. Mas nada supera a coragem de um diretor de marketing.
Afinal, o primeiro risco é dele. É o próprio emprego. Saber conviver com o erro, com o fracasso é coisa para poucos. Por isso o sucesso é para poucos.
Cannes é um festival de coragem. É por isso que fascina.
Existem diretores de marketing que são heróis da comunicação.
E donos de agência e profissionais que acompanham essa bravura.
Ainda nesse caso extremamente bem sucedido, o diretor de marketing deve ter pensado da seguinte maneira: “vou atingir com essa comunicação
( com a pulseira) uma camada do ser humano que é a beleza, o desejo, a posse, o merecimento. E é isso que vai disciplinar mães e pais a levarem seus filhos para vacinar.”
Um toque humano, pertinente, eficiente de comunicação e uma bravura sem tamanho.

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