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Cannes Lions

20 A 24 DE JUNHO DE 2022

Resumo de Cannes 2017

Foi o ano em que apareceram as primeiras grandes críticas à organização do festival, por parte de dois dos maiores grupos mundiais da publicidade. Foi também o ano em que as empresas de tecnologia e as consultoras digitais apareceram como os grandes sponsors do evento.


24 de junho de 2017 - 16h10

O festival de publicidade de Cannes deste ano, não foi apenas mais um ano de festival. Foi o ano em que apareceram as primeiras grandes críticas à organização do mesmo, por parte de dois dos maiores grupos mundiais da publicidade. Foi também o ano em que as empresas de tecnologia e as consultoras digitais apareceram como os grandes sponsors do evento.

1. Arthur Sadoun e Martin Sorell incendiaram Cannes

Sadoun está apenas três semanas como CEO do Grupo Publicis, o terceiro maior grupo mundial de publicidade e detentor de agências como a Publicis, Leo Burnett, Saatchi&Saatchi e BBH. Sorell é o fundador da WPP, o maior grupo de agências de publicidade do mundo, e seu CEO desde 1985.

O primeiro, aproveitou Cannes para anunciar às suas agências que em 2018 estavam proibidas de inscrever prêmios e delegados em Cannes, bem como em todos os outros prêmios internacionais e locais.

O segundo, reagindo às declarações do primeiro, lembrou que este ano tinha cortado em 50% o investimento do grupo em Cannes e aproveitou ainda para questionar aquilo em que Cannes se tinha tornado: um festival demasiado caro e pouco focado na criatividade. Por fim, ainda sugeriu que a Riviera Francesa, em junho, não era o local mais barato e mais indicado para realizar um festival mundial desta envergadura – como alternativa, sugeriu Nova Iorque, Londres ou Paris.

2. Medo no Grupo Publicis e vontade de mudar na organização dos Cannes Lions

A Advertising Age estima que o Grupo Publicis tenha gasto, só este ano, cerca de 20 milhões de dólares em Cannes. Deste valor, apenas perto de 2 milhões dizem respeito às inscrições de trabalhos. O resto do valor terá sido gasto em ingressos para o festival, viagens, hotéis, festas e despesas de representação – ou, como a própria Advertising Age, ironiza: “gastos em rosé”. Segundo Arthur Sadoun, este valor será revertido para a criação de uma plataforma digital interna do grupo, que se chamará “Marcel” e que irá conectar todos os funcionários de todas as agências do grupo.

Na imprensa especializada, há quem refira que este pode ser um sinal da Publicis junto ao mercado de Wall Street, preocupado com a preponderância que as consultoras como a Delloitte Digital e a Accenture Interactive estão a assumir no mercado.

Dentro da Publicis, outras publicações como a AdNews, dizem que impera o medo da reação que alguns grandes clientes globais possam ter pelo fato de não terem os seus trabalhos inscritos em prêmios como Cannes ou Effie. Por outro lado, teme-se também uma fuga de talentos criativos em massa, rumo a outras networks de agências de publicidade, ou mesmo a agências independentes, que irão continuar a inscrever os seus trabalhos.

A organização dos Cannes Lions, aproveitou esta contestação de dois dos 3 maiores grupos mundiais de publicidade, para anunciar que vai criar um grupo de trabalho com o objetivo de reformar o festival. O mesmo será constituído por agências, grandes anunciantes (como a Unilever e P&G), e ainda pelo próprio presidente da autarquia de Cannes. Serão estas mudanças assim tão profundas? Apenas teremos estas perguntas respondidas na próxima edição. No entretanto, importa ler com atenção a entrevista do Jose Papa, CEO dos Cannes Lions, deu em exclusivo ao The Drumm.

3. Um festival de criatividade que mais parecia um festival de tecnologia

Imagine que a sua empresa desembolsou uns 10.000 euros para lhe pagar a viagem até Nice, o Uber até Cannes, a entrada completa no festival e a estadia no hotel Carlton.

Mal chegasse ao seu hotel, iria reparar que a fachada do mesmo estava coberta por anúncios do Spotify. Entraria, faria o check-in e iria colocar as malas no quarto.

Depois disso, iria a pé (é uma distância de dez minutos) até ao Palais do festival, para tratar da sua acreditação.

Nesta viagem, iria passar por vários photobooths do Pinterest, seria acompanhado por uma facha azul do Waaze gravada no chão, passaria pela praia do Twitter, pela praia do Google/YouTube, pela praia do Facebook e pela praia da Oracle.

Já cansado e arrasado pelo calor abrasador da Riviera Francesa, qual seria a primeira coisa com que se iria deparar em frente ao Palais? Aí está, com uma roda gigante (daquelas de parque de diversões) patrocinada pelo Snapchat.

Depois de revistado, entraria finalmente no festival. Daria a sua identificação e era-lhe entregue uma credencial, cujo lanyard era patrocinado pela Accenture Interactive. Já no interior do Palais, umas promotoras iriam entregar-lhe uma pulseira (também da Accenture Interactive) com um chip Bluetooth que se ligaria ao seu smartphone e que lhe permitiria trocar contactos com os restantes delegados do festival.

Poderia continuar este exercício e referir a ativação do Instagram, as iniciativas da Delloite Digital, o workshop de VR da Nokia e por aí adiante. Em suma, aquilo que era suposto ser um festival de criatividade publicitária, parece ter-se transformado numa enorme feira de tecnologia.

4. O que realmente interessa em Cannes é o que realmente sempre interessou

Depois das 17h00, o festival de Cannes tende a transformar-se em algo parecido com uma grande confratenização.

Alguns delegados decidem ir jantar. Os outros, deslocam-se diretamente para as várias festas das mais variadas praias – alugadas pelos sponsors do festival – que por norma decorrem até às 2 da manhã.

Pelo meio, existem ainda as festas das agências, clientes, produtoras e consultoras, que tanto decorrem em suites de hotéis com 5 estrelas e também nos luxuosos iates ancorados na marina.

Invariavelmente, mais no final da noite, todas as pessoas terminam de copo na mão, entre o Carlton e o emblemático Martinez, invadindo (literalmente) as duas faixas da Croisette de Cannes. O Open Bar das festas privadas, faz com que facilmente nos esqueçamos do absurdo de pagarmos 30 euros por um copo de rosé no Carlton, ou 11 euros por uma Corona quente no Martinez.

É certo, que muitos destes momentos se transformam em bons momentos de networking. Mas também é verdade, que às tantas da noite o networking mais se parece com um imenso notworking.

Em suma, o que realmente continua a interessar nos Cannes Lions é aquilo que realmente sempre interessou: ver bom trabalho e ouvir excelentes conferências.

Au revoir e até 2018

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