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Cannes Lions

20 A 24 DE JUNHO DE 2022

A diversidade precisa descer do palco

Embora muitas palestras discutam a diversidade e inclusão, isso não se reflete fora dos palcos, onde circulam raros negros, asiáticos, latinos-raiz ou qualquer outra mistura de raças


23 de junho de 2017 - 17h56

Como já era de se esperar, diversidade e inclusão foram temas muito debatidos e questionados em Cannes, extrapolando a indústria da propaganda, já que se trata de uma problemática da sociedade atual. Na verdade, essas questões sempre existiram, mas somente nos últimos anos estão sendo discutidas formas genuínas e reais de resolver alguns destes problemas, pelo menos na propaganda.

Mesmo sabendo que estes temas foram muito mais explorados por aqui, tive o prazer de estar presente em 3 momentos marcantes.

Em uma apresentação patrocinada pelo Twitter, três líderes criativos e influenciadores afro-americanos bem sucedidos dividiram com o festival como iniciaram o movimento Saturday Morning, criado por eles em um encontro de café da manhã, logo após alguns incidentes com jovens negros sendo mortos pela polícia americana. Nessa manhã, eles iniciaram uma campanha pela paz, distribuindo o “The peace brief” para todos os seus amigos e conhecidos que gostariam de agir em prol desta causa mas não sabiam muito como. Está é a ideia: todo sábado de manhã eles se reúnem e fazem aquilo que sabem fazer de melhor, no que são especialistas, focados nessa campanha pela paz. Se você é criativo, pense em algumas peças. Se é atendimento ou planejamento, crie alguns conceitos e organize a estratégia. Se for mídia, faça um plano, negocie espaços. Basicamente aquilo que as agências já fazem para inscrever peças de campanhas sociais em festivais, mas nesse caso o resultado desta campanha impacta na sua vida, literalmente. Gostaria muito que esse o movimento ganhasse corpo e chegasse até aqui. Movimentos para promover a paz nunca serão demais. E as redes sociais devem contribuir muito para isso: #MakeDifferenceHappen.

Assim como o trabalho das ativistas e punk-rockers russas Pussy Riot que levantaram o auditório com sua fórmula simples de lutar: coloque sua mascara de tricô colorida, escreva sua causa num cartaz, fotografe e faça ela rodar o mundo. O “Fuck Trump” foi a maioria ali no local e ganhou um pouco mais as redes sociais. Faltou algum brasileiro para escrever o nosso “Primeiramente …”.

Na presença da filha de nove anos de uma delas, aprendemos didaticamente o passo a passo para fazer um protesto eficaz e com resultado. Putin já está bem incomodado e em mais um ato de covardia, mandou prender uma das garotas, que passou 21 meses em uma prisão nada amigável da Rússia. Felizmente, elas estão livres e encorajando com suas máscaras coloridas a todos que lutam por igualdade e inclusão.

A terceira apresentação sobre esse tema foi a mais contundente. Na verdade era uma conversa informal entre Spike Lee e Wendy Clark, da DDB, com alguns convidados fora do Palais (percebi que tem muita coisa interessante acontecendo fora). Talvez pelo peso e credibilidade do seu nome ou pela frequência com que tenho falado sobre isso com outras pessoas, cada vez acredito também que as organizações precisam se forçar a buscar talentos mais representativos da sociedade. A diversidade e inclusão trazem uma riqueza de ideias, opiniões, pontos de vistas, vivências e experiências que se refletem em vários benefícios para as empresas, principalmente em resultado! Spike Lee disse já ter estudos comprovando.

Mas se este mundo corporativo não se obrigar a recrutar, integrar e dar voz à essa diversidade, tudo vai continuar como está. E foi isso que eu vi fora dos palcos de Cannes: raríssimos negros, asiáticos, latinos-raiz (não latinos-nutella) ou qualquer mistura muito diferente do bem sucedido e branco americano/inglês/francês. E é nas mãos deles que a publicidade mundial continua.

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