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Cannes Lions

20 A 24 DE JUNHO DE 2022

John Legend: verdades e música no palco do Palais

Ao lado de Marc Pritchard, CBO da P&G, e da jornalista Katie Couric, cantor discutiu o quanto as empresas podem contribuir com debates sociais

Roseani Rocha
19 de junho de 2019 - 13h16

“Reimaginar a criatividade pelas lentes do amor e da humanidade” foi o tema de um dos seminários mais concorridos da edição 2019 do Cannes Lions. Nele, Marc Pritchard, chief brand officer da P&G, recebeu a jornalista Katie Couric e o cantor e compositor John Legend, que se tornou parceiro da marca recentemente.

Antes de engatarem a conversa, a P&G exibiu a campanha “The best the man can get”, de Gillette, pela qual a companhia foi criticada e elogiada, uma vez que tocava o dedo na ferida de parte grande do público masculino que ainda acha alguns comportamentos naturais – homem só pode gostar de beber e fazer churrasco, não há problema em ser assediador, menino tem que saber brigar, entre outros exemplos. Depois de um outros vídeos com a participação de Legend para as marcas Pampers e SK-II, de dermocosméticos, Pritchard abriu o painel apresentando e elogiando seus colegas de palco: o talento da jornalista e sua coragem de criar uma empresa, a Katie Couric Media, para produzir conteúdos que promovam o bem, e o colecionador de prêmios John Legend que, além disso, também é, segundo Pritchard, uma das pessoas mais criativas do mundo, ativista das questões sociais e um ótimo ser humano.

O CBO da P&G resgatou o cenário atual para profissionais como ele, em que o digital já domina, mas o adblocking continua crescendo. Também citou dados de pesquisas que apontam que 70% das pessoas acham que propaganda incomoda e 40% das mulheres se sentem indevidamente representadas pela publicidade (ou nem mesmo representadas). A sua conclusão: “O mundo da publicidade não representa o mundo real e é hora de liderarmos mudanças”, afirmou Marc Pritchard.

Uma das formas de construir marcas que segundo ele são uma força não só para o business, mas também para o bem é por meio de parcerias como as que tem feito com Couric e Legend. A jornalista ressaltou o que o ambiente da mídia mudou dramaticamente, com muita gente hoje se informando praticamente todo o tempo em seus telefones e explicou porque decidiu fundar uma empresa e trabalhar com marcas. “As pessoas querem que empresas e CEOs mudem o mundo. Acredito que as companhias estão fazendo um trabalho importante e precisamos de mais storytellings que ajudem a propagar o bem”, disse Katie Couric.

John Legend também fez coro, ressaltando em especial o fato de as empresas terem muito poder e orçamentos por meio dos quais podem conseguir que muita gente veja e ouça suas mensagens. “E elas podem escolher o bem. Nós consumidores também podemos, muitos já escolhem coisas além da qualidade de um produto. Escolhem empresas que falem sobre o que querem para o mundo, seus valores, que se preocupam com um mundo melhor e mais justo. Com isso atraem as pessoas”, avaliou o cantor.

Além da coragem de veicular filmes como o da Gillette – Pritchard reconheceu que aquilo mexeu com os nervos da empresa, que teve o momento crucial de optar entre seguir em frente ou não – a P&G também tem criado outros como “The look”. Sem uma palavra, o roteiro é em torno da história de um homem negro que enfrenta vários olhares enviesados quando está em determinados lugares. A câmera segue suas atividades até que ele é mostrado em destaque na sala de um tribunal: como juiz.

Quando a conversa girou em torno da necessidade de se abordar assuntos delicados como preconceitos, John Legend confessou que quando assistiu ao filme sentiu familiaridade com esse sentimento de ser visto como se não pertencesse a alguns lugares. Os EUA, lembrou, tem um histórico de segregação racial e há espaços em que pessoas negras não se sentem bem recebidas, como o entorno de algumas universidades em que jovens negros ainda são tratados como impostores pela polícia. Contou que ele próprio, circulando de carro, volta e meia era parado e tinha de apresentar os documentos, em situações que um estudante branco não seria abordado. “O resultado mais inocente disso é fazer as pessoas se sentirem desconfortáveis, mas sabemos que há casos com consequências muito mais sérias”, pontuou.

E Katie também comentando o filme, disse que é triste que um homem negro como o do filme precise estar numa posição elevada, como a de juiz para que “tenha o nosso respeito”. O próprio CBO da P&G revelou no palco do Palais que por muito tempo – principalmente no ambiente de trabalho – omitiu sua origem mexicana. “Se eu tivesse tido o nome Mick Gonzalez, como havia sido cogitado para mim, não teria me tornado CMO”, disparou, após contar que seu pai tinha origem mexicana e havia sido adotado por uma família branca, de onde veio o nome que usa até hoje.

O painel seguiu para as questões de equidade de gênero, com Katie comentando conteúdos que têm feito sobre o assunto para inspirar outras mulheres e que, no caso da P&G, resulta em campanhas como “Share the load”, em que homens e mulheres dividem as tarefas da casa. Ela também ressaltou a importância de incluir homens e meninos no debate.

Depois de tanta conversa franca e densa, o painel terminou com a suavidade de John Legend ao piano, emendando duas músicas. Ainda assim, sem fugir dos temas discutidos até então, já que evocavam o amor entre as pessoas.

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