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Cannes Lions

20 A 24 DE JUNHO DE 2022

Com emoção

Não basta contar uma boa história, é preciso que ela toque as pessoas. Cannes pede alma e às vezes ela está ao seu lado no avião


19 de junho de 2019 - 8h36

Depois de uma noite mal dormida no avião a caminho de Cannes, entro na conexão final. Duas horas e meia separam Lisboa de Nice e só penso em dormir. O fone de ouvido me garantia o isolamento, mas o sorriso de uma desconhecida que sentou ao meu lado mudou essa perspectiva.

Era Maha Mamo, uma brasileira que viveu maior parte da vida como apátrida. Existem no mundo aproximadamente 10 milhões de pessoas nessa mesma situação. Maha é filha de pais sírios casados ilegalmente (ele católico e ela muçulmana) que fugiram para o Líbano. Foi lá que tiveram seus três filhos. Como os pais não eram libaneses e a Síria não reconhece filhos de casamentos ilegais, ela nasceu e cresceu sem pátria e isso significa sem documento, sem qualquer registro da sua existência.

Como não existia de forma legal, Maha não teve acesso à saúde e nem à educação formal. Viveu uma vida em que ir ao médico ou entrar em uma boate sempre foram um desafio porque ela não conseguia provar quem era.

Em 15 minutos de conversa eu já estava emocionada e agradecida por ter me jogado nessa conexão real. A história dela é foda e pode ser vista em um Ted Talks. E já deixo o spoiler: temos um final feliz. O Brasil recebeu Maha e seus irmãos e hoje ela tem um passaporte que me mostrou com muita emoção.

Mas o que isso tem a ver com Cannes? Porque a palavra que mais escutei nesses primeiros dias foi emoção. Fazer com emoção, criar com emoção, produzir com emoção. A emoção estava no papo da Marie Kondo quando ela nos afirmou que a escolha pelo que vamos “guardar” ou “descartar” está no momento que olhamos para aquilo e suspiramos (ou não). E também na fala de Ivy Ross, do Google, que mostrou a nova pulseira criada pela empresa. Ligando os pontos dos batimentos cardíacos, da respiração, da temperatura da pele e dos movimento do corpo, o device consegue detectar o que estamos sentindo. Uau! Dados criam o registro, mas no final é a emoção que conduz nossas escolhas, que nos conecta com o mundo real e nos faz ter uma boa história para contar.

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