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Cannes Lions

20 A 24 DE JUNHO DE 2022

Calibrando o olhar

Aquelas crianças e aquele exercício de observação me fizeram pensar o quanto treinar o olhar para perceber detalhes é importante.


17 de junho de 2019 - 12h48

Antes de chegar a Cannes fiz uma escala rápida em Paris. Só um fim de semana. Tempo suficiente para ver amigos e de ir entrando no clima da França. No meu caso, percebi que tava entrando no “modo francês” por alguns detalhes.
Primeiro vesti uma roupa que eu já tinha usado várias vezes. Mas por alguma razão, desta vez, me senti mais elegante que o normal. A outra coisa que chamou a minha atenção: durante os dois dias, nos lugares que fui comer, raramente via alguém com o celular na mão ou mesmo em cima da mesa.

Aí veio a terceira coisa que mais me surpreendeu. Aconteceu enquanto eu caminhava numa rua movimentada de Paris. Eu aguardava o sinal dos pedestres abrir e vi que, ao meu lado, estava um grupo de crianças acompanhado de duas professoras do colégio. Deviam ter por volta de seis anos. Primeiro reparei nos coletes amarelos fosforescentes que usavam onde liam-se seus nomes e o da classe escritos de pilot preto. Continuei olhando e reparei que todas seguravam um mesmo papel nas mãos. A primeira folha mostrava um mapa do quarteirão com um trajeto sublinhado em vermelho. Certamente o trajeto do passeio a pé que estavam fazendo. Mas era na folha seguinte que estava o motivo do passeio (e da minha surpresa): várias fotos quadradas de pequenos detalhes que deveriam ser vistos e ticados durante o trajeto. Algumas fotos mostravam closes de prédios que podiam ser reconhecidos pelo estilo arquitetônico, outras mostravam detalhes de placas comercias de lojas, outras mostravam pedaços da vegetação, enfim. Sempre em close, como peças de um quebra cabeça em que a solução está no cenário, na cidade, na vida.

Aquelas crianças, aquele exercício de observação, me fizeram pensar o quanto treinar o olhar para perceber detalhes é importante. Os mesmos olhos que enxergam detalhes da arquitetura, das placas, das plantas, também percebem a minha roupa e me fazem sentir mais elegante. É o olhar treinado para observar o ambiente presente, concreto, que também estimula uma pessoa a se conectar com seu companheiro do almoço ao invés de fugir para uma tela fria ou a timeline de um conhecido distante. Aquelas crianças me fizeram pensar como “ver” e “olhar” são coisas tão diferentes.

Bom, cheguei a Cannes hoje e amanhã de manhã já mergulho no festival. O que não vai faltar são coisas pra ver. Dessas, o que mais chamar a atenção do meu olhar, prometo dividir por aqui com vocês.

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