Roseani Rocha
17 de junho de 2021 - 22h39

Pela primeira vez, uma pesquisa orientou a elaboração da agenda de conteúdos (ao vivo e on demand) do Cannes Lions. Segundo os organizadores, nela foram ouvidos mais de 1.500 profissionais de marketing, de mídia e criativos, além de ter havido entrevistas individuais com CMOs e outras lideranças da indústria de comunicação. O resultado foi o relatório State of Creativity e palestras e discussões girando em torno de oito grandes temas.

Tradicionalmente mesclando, em sua versão presencial, celebridades da indústria às do mundo pop (cinema, música etc.), o Cannes Lions ao longo do tempo também fez crescer nos seminários uma agenda social, abarcando temas como a igualdade de gênero e racial. Recentemente, as diferentes revoluções causadas pela tecnologia também ampliaram a preocupação em abarcar essa programação.

Yuval Noah Harari, autor dos best-sellers Sapiens, Homo Deus e 21 Lições para o Século 21, será um dos destaques da programação do Festival (Crédito: Reprodução/YouTube)

A versão digital do festival da Ascential, que este ano homenageia a Microsoft como Anunciante do Ano, volta a abordar os temas citados, com um esforço claro para se mostrar como palco (físico ou digital) para apresentação de tendências e debates que apontem para o futuro da indústria e da sociedade. Neste sentido, talvez a maior celebridade do line up seja o historiador e filósofo israelense Yuval Noah Harari, autor dos best-sellers Sapiens, Homo Deus e 21 Lições para o Século 21, que também foi estrela da versão online deste ano do SXSW. Na praia online do Cannes Lions 2021, Harari discutirá “como o poder transformador da narrativa pode evoluir sociedades e marcas”, tendo como interlocutor Neil Lindsay, vice-presidente de Prime e marketing da Amazon.

O tema sociedade também passará pelas palestras com Amina Mohammed, secretária-geral das Nações Unidas (ela discutirá como as marcas podem ter papel especial em construir uma sociedade mais equânime, sustentável e inclusiva), assim como na de Kyriakos Konstantinidis, diretor de marketing global da AstraZeneca, que certamente terá muito o que falar neste contexto de pandemia e corrida da vacinação, assim como Maxine Wiliams, chief diversity officer do Facebook, na questão racial. A bailarina brasileira Ingrid Silva, fundadora da ong Empowher NY, reforça o time. Há 13 anos, ela saiu da periferia do Rio de Janeiro e, hoje, é Primeira Bailarina do Dance Theatre of Harlem, companhia nova-iorquina que prioriza dançarinos negros. Ano passado, as sapatilhas que ela pintava com maquiagem para deixar da cor de sua pele foram para o acervo do The Smithsonian National Museum of African American History and Culture.

No âmbito das celebridades “pop”, a atriz holywoodiana Reese Witherspoon irá conversar com o presidente e CEO da MediaLink, Michael Kassan. Já o piloto de F1 Fernando Alonso, falará sobre o futuro dos esportes. E entre outras estrelas que emprestarão seu brilho ao festival estão a atriz Gal Gadot, as cantoras Brandy e Andra Day, além do cantor nigeriano Láolú Senbanjo. As novas gerações provavelmente se sentirão mais representadas pela TikTok star MegaGoneFree. E a diversidade e inclusão terá também as cores de Latrice Royale, drag, artista e personagem de reality shows.

Figurões da indústria
Naturalmente, personalidades da indústria também têm presença confirmada no evento. Entre os de agências estão os CEOs do WPP, Mark Read; da Dentsu, Wendy Clark; e da Accenture Interactive, Brian Whiple. Além da CCO da FCB, Susan Creedle, e da CCO e fundadora da Badger & Winters, Madonna Badger, cuja carrera de 30 anos na publicidade é exaltada pelos organizadores do Cannes Lions. E do mundo das relações públicas, Richard Edelman, CEO da Edelman, estará novamente no evento, assim como sua colega Gail Heimann, presidente e CEO da Weber Shandwick.

E como não é de hoje que o Cannes Lions deixou de ser um evento de criatividade restrito a criativos de agências, o número de CEOs, CMOs e outros executivos de marketing estrelados seja em veículos ou anunciantes continua grande. Estão na lista de 2021, na mídia, Bozoma Saint-John, CMO da Netflix; Jayanta Jenkins, vice-presidente executivo e head de marketing da Disney +; Lorraine Twohill, CMO do Google; e Guru Gowrappan, CEO Verizon Media. Já no lado dos anunciantes, ícones de algumas das maiores empresas do mundo, entre eles Marc Pritchard, chief brand officer da P&G e sua colega Conny Braams, CMO da Unilever. As gigantes de meios de pagamento Visa e Mastercard também serão representadas, respectivamente, pelos CMOs Lynne Biggar e Raja Rajamannar. E se por alguns anos o brasileiro Fernando Machado era o host nas palestras-show capitaneadas pelo Burger King, este ano a porta-voz é a nova global chief brand officer Paloma Azulay, responsável também pelas redes Popeyes e Tim Hortons. Outra forte CMO no time feminino é Deborah Wahl, da General Motors. Ela estará no “CMOs in the Spotlight” com o brasileiro Pedro Earp, chief marketing and ZX Ventures officer da AB-Inbev. Outro talento nacional ocupando uma posição global e presente na edição online do festival é Aline Santos, chief brand officer e chief diversity and inclusion officer da Unilever.

Já do mundo do e-commerce estarão no festival Claudine Cheever, vice-presidente global e de marca e marketing da Amazon, Chris Tung, CMO do Grupo Alibaba e Maria Mujica, vice-presidente de e-commerce da Mondelez para a América Latina. Mais uma vez, o Cannes Lions deixa evidente que o futuro de qualquer negócio passa por respeitar ou mesmo estimular mudanças sociais para um cenário no qual, com respeito às diferenças, todos prosperem. Coisa que qualquer criativo, nas agências ou fora delas, deve saber de cor, mas que no dia a dia ainda não é tão fácil assim praticar. Por isso, o esforço coletivo de ter uma agenda de debates que levem a novas formas de pensar e, principalmente, de agir.