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Cannes Lions

20 A 24 DE JUNHO DE 2022

Conectando pontos no mapa

Enquanto o SXSW foi um festival que primeiro impactou a sociedade para depois ser descoberto pelo mercado publicitário, Cannes é o oposto


7 de junho de 2019 - 18h36

Eu não conheço Cannes, mas fui quatro vezes a Austin. A riviera francesa que todos os anos recebe o festival de criatividade e o ponto azul no meio do Texas que sedia o SXSW não poderiam ser mais opostos. E parecem viver momentos diferentes. Embora para alguns publicitários e profissionais da indústria criativa ambos façam parte do mesmo circuito, cada um tem uma proposta.

O SXSW foi criado por apaixonados por música e foi crescendo em relevância por sempre ter dialogado com os interesses e paixões das pessoas. Pautas que impactavam a sociedade na interação com a tecnologia e criatividade sempre foram ali discutidos, e, muitas vezes, influenciou importantes discussões posteriores. Mas, apenas nos últimos anos, o evento foi descoberto por profissionais do mercado publicitário e se tornou fonte de inspiração e referência para os mais de 1590 brasileiros que foram este ano.

Se Austin primeiro influenciou a sociedade para depois impactar as salas de reuniões e escritórios, Cannes parece fazer o caminho oposto. Sempre foi um festival de publicitários e criativos que agora parece finalmente interessado em ter algum impacto na sociedade. Entendo que é e sempre será um evento de premiações, festas e negócios, mas me parece cada vez mais estar buscando se conectar com o que os que nunca fizeram parte da festa tem a dizer.

Mais do que apenas premiar trabalhos que buscam trazer visibilidade para questões da sociedade ou ser tema do conteúdo das palestras no Palais, o festival tem se movimentado nos últimos anos para efetivamente se atualizar e atuar de acordo com a realidade do mercado e da sociedade. Segundo dados dos últimos números, apenas 2% dos frequentadores do Festival Cannes Lions são pessoas não-brancas ou de comunidades sub-representadas.

Algumas iniciativas parecem indicar esse desejo, como a criação da categoria Glass – Lions for Change – em 2015, para premiar cases que promovem a equidade de gênero; e do “See it be it” em 2014, para ampliar a capacitação de mulheres criativas na indústria da comunicação. Também tem havido esforços para trazer maior paridade de gênero entre os jurados (em 2019, 48% dos membros do júri será composto por mulheres, embora a paridade com relação a raça e etnia ainda esteja distante), e este ano a organização reforçou a orientação para que jurados avaliem se os trabalhos perpetuam ou não estereótipos de raça, etnia, gênero, idade, entre outros preconceitos, em diretrizes criadas com apoio da Unestereotype Alliance, iniciativa da ONU Mulheres para combater preconceitos e estereótipos na indústria da comunicação.

Minha expectativa é ver em Cannes a continuidade dessa jornada por uma criatividade mais ampla e diversa, em todos os sentidos. Para que o potencial criativo da indústria publicitária seja usado para impactar positivamente a sociedade e estabeleça novos precedentes e diretrizes para que isso aconteça não apenas uma época do ano, mas todos os dias. E, especialmente, nas cidades menos glamurosas do hemisfério sul.

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