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Análise Glass: O que a criatividade pode fazer pela sociedade

Para Gal Barradas, o Glass Lions cumpre mais uma vez seu papel com uma extensa diversidade de temas e pautas


24 de junho de 2018 - 9h56

Por Gal Barradas

Vamos começar pelo GP: havia dois cases fazendo alusão ao período menstrual. Sagrou-se vencedor o case da AMVBBDO London para Libresse. A ideia é estimular um movimento contra o tabu em torno deste momento da mulher.

Gal Barradas

Assim como o suor, o espirro ou qualquer outra manifestação natural do corpo, para a fêmea, a menstruação é um processo inevitável e necessário. A menstruação existe por que a mulher gera filhos. Embora seja um período desconfortável, é possível até ver certa poesia nisso. Mas este sangue mensal sempre foi tratado com vergonha e às escondidas.

Há quem diga que foi a indústria de higiene que estimulou esta crença de que a menstruação deve ser mantida escondida e limpa para que pudesse vender mais produtos. Mas olhando sob a luz de diferentes culturas, não é tão simples assim. Há questões culturais bem mais arraigadas em alguns países como a Índia, por exemplo, onde os absorventes não ficam expostos nas prateleiras para venda e são levados enrolados em papéis ou sacolas para ninguém ver que alguém os está levando.

Isso é tão grave que faz com que mulheres contraiam doenças por não saber como lidar com a higiene neste período. Além disso, há questões religiosas que fazem com que as mulheres nem possam exercer certas atividades, como acontece em várias partes do mundo. Seja como for, dentro dos diferentes matizes com que este tabu se manifesta, são tantas coisas que vêm mudando no mundo, que parece que natural que este seja mais um preconceito a ser demolido. Afinal, talvez nunca tenhamos nos perguntado: o que há de tão grave com uma calça suja de sangue?

Os dois Ouros deste ano também mexem com dois temas muito críticos em certas culturas. Um deles foi a novela que fala sobre as consequências danosas do casamento infantil da BBDO da Republica Dominicana para Unicef e um filme para estimular os rituais de sororidade tradicionalmente restritos apenas a mulheres casadas da FCB Mumbai para o Calcuta Times. Como se vê, os problemas que as mulheres enfrentam podem até ter diferentes “tonalidades” mundo afora, mas estão todos ligados a preconceitos ancestrais que queriam manter a mulher fora da sua integridade como ser humano forte e independente.

Uma das Pratas do Glass premiou um case leve e divertido: The Lioness Crest da W+K Amsterdan para Nike. Se o nome do time era “As Leoas Laranjas” porque o escudo não poderia ser uma Leoa e não o tradicional Leão? Uma coisa tão simples, mas tão forte e simbólica.

Outra Prata foi para um bonito filme It’s a Girl da Cheil India para Samsung,  que mostra o despertar do orgulho de um pai por uma filha, num país onde ter filhas mulheres não é motivo de comemoração.

A 3a Prata foi para o Brasil, com o case MyGame MyName da Africa para Telefonica. Gosto deste case, pois as gamers brasileiras e de todo o mundo são muito desrespeitadas neste ambiente, a despeito da sua evidente competência, simplesmente por um preconceito de gênero.

Entre os 5 Bronzes, gostaria de destacar dois: um que aborda a difícil missão das Mães em driblar o julgamento dos outros sobre a sua qualidade como Mães, incentivando-as  simplesmente a se assumirem como são,  com suas características, com seus estilos de vida, evitando os estereótipos. Case da BBDO India para SC Johnson.

O outro é o case brasileiro da Ogilvy para Coca-Cola, em que garotas vão pra balada com um vestido com sensores que aferiram quantas vezes elas foram apalpadas e tocadas sem consentimento pelos homens. Quem hoje é Mãe e quem já foi ou vai pra balada, seguramente já sentiu na pele estas situações.

Os demais cases vencedores de Bronze foram o The Rape Tax, da Area23 (FCB Health) para Victim Advocacy, fazendo com que a sociedade compartilhe da dor e dos prejuízos da mulher violentada; Force of Nature da Rei quebrando o tabu de que os esportes outdoors são masculinos; e, por fim, o filme da Harry’s, A Man Like You, que também busca mudar estereótipos.

Como vemos, os problemas envolvendo as questões de gênero são muitos e jogar luz sobre eles é o primeiro passo para que possamos transformá-los. Assim, o Glass cumpre mais uma vez seu papel com uma extensa diversidade de assuntos, mostrando o que a criatividade pode fazer não só pelas marcas, mas pelas pessoas, pela sociedade e pelo mundo.

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