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Cannes Lions

20 A 24 DE JUNHO DE 2022

Diversidade: pelo bom senso e pelos bons resultados de negócio

Personalidades de áreas distintas mostram o balanço positivo quando as diferenças não são colocadas de lado

Roseani Rocha
19 de junho de 2018 - 15h32

Thandie Newton, Edward Enninful e Tifanny Warren, no palco do Palais (Crédito: Eduardo Lopes)

Se a diversidade é boa socialmente, não é menos importante para o desenvolvimento dos negócios. Isso ficou claro no painel “Diversidade – uma questão de valor e imperativo de negócios – requer ações ousadas”, do qual participaram nesta terça-feira, 19, em Cannes, Edward Enninful (editor da Vogue britânica), Antonio Lucio (CMO global da HP), Thandie Newton (atriz britânica) e Tiffany Warren (vice-presidente e chief diversity officer do Omnicom Group).

Entusiasta do assunto diversidade, o CMO da HP lembrou que ano passado discutiu o assunto também no palco do Cannes Lions com o reverendo Jesse Jackson, ativista dos direitos civis, nos Estados Unidos. E já naquela ocasião Jackson lembrava que movimentos inspiradores sempre são seguidos de ações ousadas. Essa ousadia, no caso dos participantes do painel, todos negros, exceto o espanhol Antonio Lucio, foi vencer todos os preconceitos e se tornarem pessoas bem-sucedidas.

Filha de uma mulher africana do Zimbabwe e de um homem branco, Thandie deixou claro que a diversidade define sua vida. E os conflitos começaram na própria família que segundo ela só quebrou os muros da ignorância com seu nascimento. “A ignorância em si não é um crime, mas não investigar as raízes de sua ignorância é”, afirmou. Depois da fase da convivência familiar, a próxima etapa a ser enfrentada com atitudes ousadas foi a da escola. Aluna de um colégio particular, lembrou que a professora não sabia o que fazer com ela, porque era muito boa aluna, e sugeriu que fosse estudar em Londres. E ela foi, tendo conseguido duas bolsas de estudo e sendo a única garota negra do lugar.

Pelo fato de enfrentar uma “convivência” meio cínica com as pessoas, Thandie lembra que o fato de sempre ter sido meio colocada à parte a fez observar mais e aprender muitas coisas. A tentativa de se manter popular nos grupos ajudou no desenvolvimento de talentos. “Reconhecia o medo nas pessoas, porque somos educados erradamente ao longo da história. Racismo e ignorância são resultados disso”, disparou a atriz. Mas sua opção foi trocar momentos de ressentimento pelos de agradecimento em ter a possibilidade de lutar. Mesmo no contexto atual, em que existem inúmeros problemas, ela afirma se sentir inspirada quando vê algumas barreiras caírem (lembrou, por exemplo, o fato de a HBO adotar a equiparação salarial para homens e mulheres em suas produções). “Nossas crianças podem viver no mundo em que diferenças não sejam vistas como algo a temer”, disse.

No âmbito familiar, o editor da Vogue não tinha motivos para temer diferenças. Tendo crescido em Londres, segundo ele uma cidade diversa, e numa casa africana, em que sempre viu diferentes tipos de corpos e cores diferentes, ao ir para a escola notou, entretanto, que o mundo não era exatamente como sua casa. Ainda assim, ele se tornou modelo – foi como entrou em contato com o mundo da moda – e, depois, editor de revistas. Para a Vogue, atuou na Itália e nos EUA, local que pensava ser o mundo da liberdade, mas viu que não era bem assim também. Na Vogue britânica há um ano, além de ser o primeiro homem a comandar a centenária publicação, já andou quebrando algumas convenções e pré-conceitos, um destes, o de que mulheres negras na capa não vendem revistas. “Nós vendemos muito! A diversidade funciona”, afirmou. Funciona e ajuda a tornar mais natural a presença das diferenças, ressaltou Edward.

E isso também pode e deve ser feito no âmbito não apenas das representações cinematográficas e nas revistas, como também no mundo dos negócios, na composição das equipes, incentivaram Tiffany, do Omnicom, e Antonio Lucio. “Não se deve marginalizar as pessoas. Olhe para o seu board e nível gerencial”, exortou a executiva do Omnicom. As mudanças precisam ser “holísticas e sistêmicas”, emendou Lucio, da HP.

No caso da comunicação, Antonio Lucio fez um “call to action” em especial aos anunciantes, que afinal passam os briefings e assinam os cheques, mas defendeu também que o assunto seja pensado constantemente também por agências, que trazem as ideias, e produtoras, por darem forma e vida a essas mesmas ideias.

Antonio Lucio, da HP, demonstrou com números o impacto positivo da diversidade sobre o negócio de sua empresa (Crédito: Eduardo Lopes)

E se é possível a mobilização para outras causas, como o combate ao cigarro, levantar dinheiro para as pesquisas contra o câncer, etc. a causa da diversidade é também um assunto que deve estar na pauta, lembrou Tiffany. No meio em que atua, Edward Enninful defendeu a insistência na inserção dos marginalizados no conteúdo, até que em vez de marginalizados eles se tornem “normalizados”. Thandie afirmou que ainda há e haverá muita coisa a fazer, mas somente o sentir que já está fazendo algo para fazer a evolução continuar já é muito bom.  E para quem não se convence pelo bom senso, Antonio Lucio, puxa pela razão. O executivo comentou que nos últimos dois anos, levou a representatividade feminina em seu time de liderança de 20% para 50%. E isso com gente altamente capacitada, já que são mulheres de marketing que segundo ele “arrebentam” em talento. Recomendou a Tiffany que queriam especificamente diretores de estratégia e criação que representassem as comunidades que servem. Saíram então de zero, entre as cerca de 200 pessoas que atuam na conta, globalmente, para 52% de mulheres. Como resultado, a preferência de marca no mundo cresceu 26% e o negócio como um todo, 14%, o que segundo ele é maior que a média de muitas das empresas de bens de consumo. “Diversidade tem de ser vista como qualquer outra prioridade de negócios. E ter métricas para saber se o que está fazendo está certo”, enfatizou.

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