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Cannes Lions

20 A 24 DE JUNHO DE 2022

As dúvidas que rondam a presença de Sorrell em Cannes

Mesmo já tendo dado início a novos negócios no mundo do marketing, os efeitos da saída controversa do WPP ainda reverberam

Roseani Rocha
18 de junho de 2018 - 4h46

Crédito: Eduardo Lopes

As notícias vindas da imprensa internacional sobre os motivos da saída de Martin Sorrell, do WPP, divulgadas na semana passada, só fazem aumentar a expectativa sobre sua participação em um painel na sexta-feira, 22, último dia da 65ª edição do Cannes Lions. Quando da primeira curta (o comunicado tinha três linhas) e vaga explicação do WPP sobre a investigação independente sobre Sorrell, dizendo que a iniciativa do grupo respondia a uma alegação de “personal misconduct” (má conduta pessoal) e que isso não envolvia valores materiais significativos ao WPP, pouca gente imaginou que os “valores” em questão eram, na verdade, muito mais altos que os financeiros. Tanto assim que levaram a uma renúncia – pouco tempo antes algo inimaginável – de sir Martin Sorrell do cargo de CEO da empresa que ele mesmo construiu em mais de três décadas de trabalho.

Depois que Sorrell já tinha anunciado o que poderia ser o começo de sua volta por cima, um aporte de US$ 53 milhões de recursos próprios na Derriston Capital, rebatizada de S4 Capital e por meio da qual ele pretende comprar empresas de marketing, o The Wall Street Journal e o Financial Times trouxeram à tona detalhes do que teriam sido os motivos da investigação do WPP e o principal deles: uso de dinheiro do grupo para pagar uma prostituta em um bordel londrino. Embora tenha ressaltado que o executivo está proibido de discutir as circunstâncias em torno de sua renúncia, um porta-voz de Sorrell, acrescentou que sobre as alegações que apareceram no jornal norte-americano “Sir Martin as nega veementemente” e não fará outros comentários a respeito no momento.

Uma reportagem de página inteira no Financial Times, traçou um perfil nada louvável de Martin Sorrell – feito a partir de mais de 25 entrevistas com pessoas que trabalharam de perto com o executivo -, ao mostrar como em seu dia a dia ele costumava misturar assuntos profissionais e pessoais e destratava com frequência seus assistentes mais próximos. A ponto de mulheres que ocuparam o cargo de assistentes dele dizerem ao jornal que era uma função “punitiva, ainda que bem remunerada”, já que o pagamento anual era de 80 mil libras. O prazo médio desses profissionais no cargo era de 18 meses. Um desses assistentes executivos e entrevistado na reportagem afirmou que após um ano de trabalho seu médico o aconselhou a deixar o trabalho “ou acabaria morrendo”.

Diante da reportagem, que acabou pintando um ambiente de trabalho hostil no WPP, em torno de Sorrell, Mark Read, CEO da Wunderman que atualmente divide o cargo de Chief Operating Officer do grupo com Andrew Scott (antes diretor de desenvolvimento corporativo do WPP e COO para Europa) se manifestou por meio de um comunicado em que reafirmou, aos funcionários do grupo – que tem 400 empresas e emprega mais de 130 mil pessoas –  os esforços para garantir um ambiente seguro e acolhedor a todos que trabalham no WPP. “Quando venho trabalhar espero ser tratado com respeito pelos meus colegas e cada um de vocês que está lendo isso tem o direito de esperar o mesmo”, afirmou Read no início de sua mensagem. Em seguida, disse que embora não pudesse comentar as alegações específicas das reportagens, sentia-se no dever de lembrar e reforçar o tipo de valores que o WPP quer e precisa ter em cada parte de seu negócio: “ valores de justiça, tolerância, gentileza e – de novo – respeito”.

Ele lembrou, ainda, que existe no grupo há anos uma linha telefônica chamada Right to Speak, um serviço operado independentemente do grupo, que protege a identidade de quem queira reportar um problema, sem falar diretamente com seus gerentes ou diretores. Read ratificou o intuído do WPP de manter suas agências como “casa para os melhores talentos do mundo”, por meio de uma cultura positiva, solidária e inclusiva em cada escritório. E, nas oito semanas em que está no posto, afirmou ele, que essa cultura existe, assim como a confiança sobre o futuro do negócio. Coisa que analistas de mercado têm colocado em dúvida.

Também semana passada, o WPP finalizou outro caso espinhoso: confirmou a saída definitiva do espanhol Gustavo Martinez, ex-CEO global da J. Walter Thompson, da companhia. Em março de 2016, ele havia sido formalmente acusado de assédio moral, sexual e racismo pela então executiva-chefe de comunicações da agência, Erin Johnson.

Martinez havia deixado o cargo de CEO global da agência, mas foi realocado para a Espanha. Sua permanência na holding, sob a gestão de Sorrell, teria irritado executivos do alto escalão do WPP (pesavam sobre ele acusações como as de que teria dito considerar estuprar funcionárias para que fossem mais submissas, chamar negros de macacos e criticar judeus). E o assunto foi resolvido, enfim, dois anos após as acusações. Um porta-voz da holding afirmou que a empresa e Martinez chegaram ao acordo de que seria melhor para ambos que ele saísse.

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