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Cannes Lions

20 A 24 DE JUNHO DE 2022

Festival mantém forte sua veia ativista

Apesar de não ter na agenda de 2018 nenhum grande nome da política, como ocorreu em edições anteriores, temas como violência e feminismo seguem fortes na pauta do evento


17 de junho de 2018 - 12h15

Por Bárbara Sacchitiello e Roseani Rocha

Além de ser um fórum de discussões das questões diretamente ligadas à publicidade, o Cannes Lions também chamou a atenção, nos últimos anos, por ser palco de manifestações que extrapolam as causas da indústria da comunicação. Para isso, o festival abriu espaço em sua agenda de debates para grandes nomes do mundo político e para a abordagem de assuntos que levantam bandeiras sociais.

Em 2012, por exemplo, o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, passou pelo Palais des Festivals, levado pelo Grupo ABC. Três anos depois, quem participou foi outro personagem que disputou a presidência norte-americana: Al Gore.

Em 2016, o secretário-geral das Nações Unidas Ban Ki-moon selou com os CEOs das maiores holdings de publicidade (Dentsu, Havas, IPG, Omnicom, Publicis e WPP) um pacto para que engajassem suas agências na “Common ground”, definida como “a maior campanha possível para a humanidade”, com a finalidade de usar a força da indústria para ajudar a acelerar até 2030 o cumprimento dos 17 Objetivos Globais da ONU. No ano passado, por ocasião da 72a sessão da Assembleia Geral da ONU, a organização do festival anunciou a criação do Sustainable Development Goals Lion, que começará a ser concedido em 2018.

Ainda em 2017, duas presenças políticas passaram pelos palcos do evento: a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, que falou inclusive sobre a jornada de ser uma mulher e conquistar um posto de tal relevância, e o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, que comentou o acordo histórico com as Farc pelo fim da violência no país. Pelo o que a programação oficial do festival indica, nenhuma visita de um grande nome político deve acontecer este ano.

Por outro lado, há temas “políticos” espalhados pela programação e eventos paralelos, como o “The Gun Safety Creative Challenge”, organizado pelo AdAge e a The Gun Safety Alliance, que reunirá, na terça-feira 19, talentos criativos para uma sessão de trabalhos que provoquem impacto em torno do tema das mortes causadas por armas de fogo nos EUA.

Já premiações como o Glass Lions também costumam incluir temas que passam por questões políticas. No shortlist deste ano são exemplos, na análise de Gal Barradas feita a pedido de Meio & Mensagem, dois cases: o “Rape Tax” um movimento de assistência às vítimas de estupro, criado pela Area23 USA, da rede FCB, e a campanha “Tampon Tax”, criada pela BBH London para a Tesco, que divulga o fato de a rede de supermercados reduzir em 5% os preços de todas as linhas de absorventes higiênicos, produtos básicos para as mulheres.

A questão da condição feminina é um dos assuntos que já se tornaram intrínsecos ao festival, que procura tocar diretamente em pontos cruciais da indústria: a baixa presença de mulheres em cargos de liderança, ao ambiente hostil das agências de publicidade e a representatividade equivocada da figura feminina em campanhas ao longo da história. “Essa discussão só chegou a Cannes porque muitas pessoas estão envolvidas diariamente fazendo isso ser cada dia mais relevante. Quem imaginar que esse tema é desnecessário ou que é um assunto chato, certamente está olhando o mundo do alto do seu privilégio e padece de empatia por muitas pessoas que o sistema atual rejeita, ignora ou agride”, enfatiza Laura Chiavone, CSO da Tribal Worldwide Nova York, que será uma das mentoras do See It, Be It. O projeto foi criado pelo festival para ampliar a presença de criativas e, nesta edição, terá no grupo a brasileira Jéssica Gomes, redatora da mineira Lápis Raro.

A bandeira feminina também deve aparecer fora da programação oficial. O movimento #WomenCannes, que aborda as questões das mulheres na indústria criativa, pede que todas as profissionais que estiverem no evento compareçam na cerimônia final de premiação, no dia 22, usando roupas pretas como forma de protesto. “Deveríamos ter orgulho dessa discussão acontecer em Cannes. Mostra que talvez não sejamos tão egocêntricos e alienados como indústria como parecemos às vezes”, enfatiza Laura.

Se antes era escassa em Cannes, a questão da equidade e diversidade começa a se aprimorar nos corredores do evento. No ano passado, executivos negros de diversas empresas lançaram durante o festival o “Saturday Morning”, movimento que pretendia unir profissionais da indústria para elaborar estratégias que visam ampliar a pluralidade étnica na indústria. Neste ano, a questão racial volta a ganhar força. A organização do festival uniu-se à HP no projeto #MoreLikeMe, que levará 15 profissionais do Reino Unido, México e Estados Unidos, de diversas etnias (sobretudo negros, latinos e asiáticos) para participar de um programa de mentoria no Cannes Lions com a proposta de formar novas lideranças.

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