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Cannes Lions

20 A 24 DE JUNHO DE 2022


18 de junho de 2019 - 14h58

“Usando essa garrafa, você está expressando uma atitude! Você está ajudando a salvar o mundo!” — um homem gritou a plenos pulmões para me “parabenizar” nas escadas rolantes. Fiquei sem saber se era realmente um elogio, por estar bebendo água da garrafa design-hipster-wearable customizada com a minha @ no Instagram, que deram como brinde junto com a credencial do festival de Cannes, ou se era uma manifestação irônica por eu estar bebendo água da garrafa design-hipster-wearable customizada com a minha @ no Instagram.

Closca é o nome da marca da garrafa que é conectada com um app e ajuda a contar quantas garrafas plásticas de água foram economizadas toda vez que você escolhe beber na sua Closca e ainda mostra os bebedouros mais próximos. A distribuição das garrafas no festival faz parte da agenda de sustentabilidade da organização, que esse ano busca economizar em uma semana o equivalente a 150.000 garrafas de água com a iniciativa. Algo tão pequeno como o jeito de beber a água pode realmente salvar o mundo?

Enquanto isso, dentro do auditório Lumiere, um diretor de cinema que salvou alguns mundos contava como seu filme ajudou a mudar a realidade de milhões de trabalhadores domésticos. Alfonso Cuarón, com o filme Roma, promoveu uma campanha por melhores condições de trabalho e de vida dos 70 milhões de trabalhadores domésticos no mundo todo, em sua maioria, mulheres. Aliando-se a ativistas sociais, como a organização The National Domestic Workers Alliance, o filme ajudou a gerar conversas sobre o assunto e pressionou por mudanças na legislação para garantir direitos básicos para os 2,4 milhões de trabalhadores de lares mexicanos. Mês passado, o Congresso do México aprovou uma nova legislação que limita horas de trabalho, garante férias remuneradas, além de garantir outros direitos mínimos como outros trabalhadores formais.

Uma vitória para a parcela da população que é uma das mais excluídas e marginalizadas da sociedade. E a falta de uma rede de segurança apenas contribuía para que elas se mantivessem ainda mais isoladas em seus próprios mundos.

Uma obra de arte pode virar plataforma para mudanças sociais, inspirar a cultura e influenciar novos comportamentos. Mas como o filme Roma mostrou, tudo isso pode ainda dar início a um movimento para mudar leis arcaicas que impediam uma vida mais digna para aqueles e aquelas que permitem que tenhamos mais conforto dentro das nossas próprias casas.

Cultura muda comportamento, o que influencia mudanças na legislação. Talvez economizar um par de garrafas de água não vá salvar vidas, mas pode significar uma pequena mudança de comportamento que faz parte de uma mudança ainda maior na sociedade. Como Cuarón ensina, as pessoas sempre vão querer coisas bonitas e luxuosas, mas elas também querem, cada vez mais, fazer algo de bom para o mundo. E por que não ajudar a transformar o mundo em um lugar mais justo e sustentável para todos e todas?

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