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Eu não dei o Grand Prix para o Brasil*

Ser jurado brasileiro em ano de Grand Prix para o Brasil é uma experiência que te faz refletir


26 de junho de 2018 - 14h49

Ser jurado brasileiro em ano de Grand Prix para o Brasil é uma experiência que te faz refletir. Recebi parabéns de muita gente pela conquista do Brasil e pelo trabalho no júri. Na conferência para a imprensa, recebi mais atenção que o próprio presidente do júri o que, para minha surpresa, fez inveja aos meus colegas jurados que vem de países onde a publicidade é uma profissão sem nenhum glamour e que é muitas vezes é ignorada pelos meios de comunicação.

Mas qual foi o meu verdadeiro papel nessa conquista? Como os outros jurados, eu estava lá para dividir minha experiência profissional de quase 20 anos trabalhando com mídias digitais e dar o meu ponto de vista sobre as ideias, as execuções e a pertinência dos projetos para esta categoria. Como brasileiro participei para representar um país de terceiro mundo, onde a penetração do smartphone não é gigantesca, mas onde o uso das plataformas sociais é amplo e sofisticado devido a nossa personalidade super sociável. Como designer, premiei as peças que eu invejei e como usuário, aquelas que me engajei e me apaixonei.

Desde o início, durante o pre-judging, foram poucas as peças do Brasil que cruzaram o meu caminho e isso se refletiu no shortlist que selecionou poucos projetos do país. Dos trabalhos que vimos, a sensação é que a maioria se arriscou pouco e/ou as ideias eram muito pequenas e nichadas. Em alguns casos, como o do Next – uma das minhas apostas para este ano –, a minha suspeita é que para os mercados onde fintech está bem mais avançado, acabamos sendo vistos como mais uma start up nesta área.

As iniciativas de VR e AR ainda são tímidas e dificilmente vão ter chances de competir se não destinarmos o tempo e as verbas de produção necessárias para este tipo de projeto. Na verdade, esse é o mesmo problema que vamos enfrentar em todas as áreas do mobile se não colocarmos nosso foco em descobrir como hackear estas tecnologias e criar conteúdos que encantem os usuários.

Já fomos uma referência mundial na criatividade digital. Junto com os suecos, nossos profissionais eram disputados pelos headhunters por seu craft e por nossa natureza hacker, sempre achando uma forma inovadora de usar a tecnologia. Essa fase definitivamente passou, mas ainda podemos voltar a essa posição. Para isso, porém, temos que mergulhar neste mundo e tentar criar algo realmente novo. Chega de reclamar das plataformas sociais e seus best practices. Aprendam com eles. Chega de reclamar dos clientes e sua cobrança por resultados e pelo uso de dados. Trabalhem mais próximos deles e reconquistem sua confiança. E por fim, usem a nossa criatividade e o nosso craft para criar uma nova linguagem para o mobile. Essa é uma grande oportunidade que corremos o risco de perder se ficarmos reclamando das barreiras e nos juntando para lembrar como eram bons os velhos tempos.

Mas, e o Grand Prix do Brasil que eu não dei? Não dei mesmo. Ele ganhou sozinho por um trabalho criativo, inovador e sólido que usa o celular como uma ferramenta de transformação em um ano onde principalmente os jovens precisam de mais informação para mudar o país.

Eu não dei, mas eu votei nesta peça porque realmente acredito que era o melhor trabalho nesta categoria. A votação final foi unânime, mas ocorreu depois de uma virada. A outra peça na disputa era de uma grande marca, Purina, que acabou perdendo alguns pontos pois não tinha tanta inovação na sua ferramenta e era destinada a um público mais nichado. E no final o meu único papel como brasileiro foi explicar o que era o Reclame Aqui, mas mesmo isso foi desnecessário, pois, em um grupo de jurados tech-savvy, em dois minutos eles já sabiam mais sobre a companhia do que eu.

Parabéns à agência e ao cliente pelo trabalho e foquem em campanhas mobile only para experimentar e aprender com essa plataforma.

*Título pegadinha para lembrar a todos que temos que ler antes de compartilhar.

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