19 de junho de 2018 - 10h49

Reflexões do dia 1 com David Droga, Burger King, L’Oréal e VCCP.

Os palestrantes por aqui são muito habilidosos (os melhores publicitários do mundo) em construir apresentações e discursos cheios de recursos interessantes como frases de efeito, vídeos bem editados e humor inteligente que entretém a platéia.

Meu desafio foi não me distrair com todo esse verniz e tentar capturar a sabedoria que estes interlocutores estavam ali se dispondo a compartilhar. Aqui vai o que capturei.

1. Seja sempre honesto com você mesmo.

David Droga, o cara mais premiado de Cannes, abriu o festival pela manhã fazendo um apanhado geral dos seus 30 anos de carreira. Sentado numa poltrona, David destacou escolhas importantes que fez como publicitário e como empresário, que o trouxeram até aqui.

Várias vezes Droga demonstra que não vale a pena a longo prazo abrir mão de convicções. Por exemplo, acabou abrindo mão de ganhar mais pra ir pra um lugar que lhe permitia fazer o tipo de trabalho que queria. Depois abriu mão de participação de uma agência quando viu sua liberdade sendo limitada por um grupo que a comprou. Comentou também quando já na Droga5, tentaram ser algo diferente do que realmente são para um cliente e as coisas não foram tão bem.

Enfim, eu senti David Droga atribuindo o seu sucesso a um pensamento de longo prazo. Ele acredita profundamente em suas convicções e não as negociou pra colher algo de curto prazo. O sucesso da Droga5 está lastreado em auto conhecimento e firmeza em sua posição, que reflete a auto fidelidade de seu fundador.

2. Embrace the Changes

Desde 1968 a L’Oréal vem fazendo aquisições e o desenvolvimento de grandes marcas. Mas pela primeira fez, em 2018, a holding adquire um negócio de tecnologia digital: A Modiface. Uma empresa dedicada à realidade aumentada aplicada à beleza.

A L’Oréal sempre pensou em “beleza para todos”, mas na era digital, precisa evoluir para “beleza para cada um” de forma personalizada. Eles acreditam que a combinação de R&D de produtos com o R&D de Digital Experiences, podem produzir a união perfeita que atende plenamente os anseios das pessoas.

O fundador dessa holding gigante repetia um mantra que até hoje orienta a companhia. Em português seria algo como “olhe para o novo”. Desde os anos 60 ele sabia que a proa tinha que estar apontada para o futuro e que isso tinha um preço, o de estar pronto para mudar sempre.

3. Não há bônus pra quem não encara o risco do ônus.

Com uma estética “hacker” a turma do Burger King e da David demonstraram como sustentam a postura de challenger e guerrilheiros o tempo todo em sua comunicação. Compartilharam 5 passos para o que chamaram de Hackvertising. Define a System to Hack, Study It, Relevant Way Brand Brake in, Call Your Lawyers, Deploy de Attack.

Me chamou a atenção que, mais que falar sobre idéias, falaram sobre como é fundamental preparar um ambiente que permita de fato tais idéias.

Campanhas extremamente inovadoras e desafiadoras, exigem agilidade, capacidade de assumir riscos, sensibilidade a zeitgeist, mensurar retorno por earned media e sobretudo coragem.

Eles mostraram que em um ano conseguiram o equivalente a 400 milhões de dólares em mídia ganha e seus vídeos foram assistidos 30 bilhões de vezes.

Fiquei convencido que pra entregar esse tipo de dinâmica, não é sobre ter idéias malucas e sim sobre criar um ambiente que suporte de fato a postura de desafiante.

4. Assumir responsabilidade pra ser relevante.

O pessoal da VCCP, agência que confesso que ainda não conhecia (deveria), discutiu num painel o futuro da efetividade.

A principio parecia uma daquelas palestras que entramos errado e perdemos tempo. Mas houve um pensamento que me fez bem. A idéia de que não podemos reivindicar relevância sem assumirmos de fato as principais questões da nossa indústria, como efetividade da propaganda, responsabilidade social, transparência, diversidade e etc.

E por hoje foi isso.
Cannes segue ensolarada, cheia de gente interessante discutindo ideias.