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Cannes Lions

20 A 24 DE JUNHO DE 2022

Do FOMO para o JOMO

Neste ano, o desafio vai ser diferente em quase tudo, mas similar na busca por histórias que emocionem e usem o meio de forma inovadora e pertinente


15 de junho de 2018 - 14h26

O trabalho do júri já começou há mais de um mês e, apesar de ser a segunda vez que vou ser jurado em Cannes, quase tudo vai ser diferente. De 2005 para 2018 foram 13 anos de revoluções no mundo digital, justamente o que me atraiu e me mantém animado a cada inovação que surge na nossa área. Fui jurado de Cyber, uma categoria que não existe mais, meu “iPhone” era um Nokia nada smart, o Facebook só tinha 1 ano de idade e existia apenas para os alunos das faculdades americanas, Instagram era Photolog e LimeWire era o meu Spotify, mas nessa época eu não desgrudava do meu iPod 4 com músicas baixadas no Napster, que eu tenho até hoje.

Naquele ano demos 2 GPs: um para Reality Show, da DM9, para Super Bonder, e o outro para Come Clean, da BBDO, para Method. Os dois projetos tinham como característica em comum usar o meio digital para contar uma história de uma forma que só neste meio era possível. Um mais divertido e outro mais emocional, mas ambos com uma profundidade que até hoje não os deixou envelhecer.

Neste ano o desafio vai ser diferente em quase tudo, mas similar na busca por histórias que emocionem e usem o meio de forma inovadora e pertinente. A febre da inovação e o FOMO faz com que todos se joguem a cada formato novo que surge, mas são raros os exemplos de chatbots e experiências em VR ou AR realmente revolucionários. Neste ano ainda vamos ver vários projetos que customizam nossas experiências capturando nossos dados, mas aposto que na era pós-Cambridge Analytica e GDPR as marcas vão pensar duas vezes para aprovar esse tipo de projeto.

Dito isso, a evolução em AI, machine learning e computer vision realmente faz com que estejamos vivendo em uma época em que a velocidade das inovações talvez seja realmente grande demais para a forma como os nossos corpos foram desenhados. A grande inovação da inteligência artificial veio quando paramos de tentar programar as máquinas e deixamos que aprendessem sozinhas, no ritmo delas. Estamos vivendo uma nova revolução industrial, e sempre que passamos por esses períodos de grandes mudanças sofremos algumas baixas antes de nos adaptar. No passado, pessoas foram atropeladas por carros, mutiladas por máquinas, esgotadas nas linhas de produção; povos e culturas foram dizimados por metralhadoras. Hoje já podemos ver as primeiras vítimas mortas por uma selfie, por desnutrição no meio de uma maratona de jogos virtuais ou atropeladas por carros autônomos.

Mas não desanimemos. Estamos a caminho da ensolarada Riviera Francesa para ver o que de melhor tem sido produzido usando a tecnologia para nos encantar e nos entreter, e tenho certeza de que vou voltar de lá ainda mais animado com as inovações que estão surgindo. Desta vez com um pouco menos de desespero e ansiedade para me jogar em tudo o que é novo e tentando aproveitar o meu tempo off-line, porque a vida também acontece fora dos nossos celulares. Com calma e, espero, um pouco mais de profundidade. De “Fear of Missing Out” para “Joy of Missing Out”.

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