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Cannes Lions

20 A 24 DE JUNHO DE 2022

Parque de diversões

Tenho a impressão de que a presença de criativos vem diminuindo na proporção oposta do aumento dos profissionais de marketing e de negócios. A programação oficial mantém o rito de catequizar, estimular e gerar inquietações aos que a assistem


20 de junho de 2017 - 10h38

A cada ano que venho a Cannes, surpreendo-me como o Festival de Criatividade está mais diversificado, um verdadeiro showroom de marcas e personalidades. O Festival já foi um laboratório para publicitários. A transformação é eminente. Parece um grande desfile. Os players se mostram e se exibem com exuberância. A disputa é acirrada e profissional.

Os espaços do Palais tornaram-se pequenos. A Croisette, principal avenida de Cannes, está tomada de stands. Tenho a impressão de que a presença de criativos vem diminuindo na proporção oposta do aumento dos profissionais de marketing e de negócios. A programação oficial mantém o rito de catequizar, estimular e gerar inquietações aos que a assistem. A cada palestra vemos um profissional e/ou uma personalidade provocarem reflexões e incertezas. Nem sabemos tudo que o mundo faz hoje na comunicação das marcas, muito menos saberemos o quem vem pela frente. Há uma constante necessidade de criar impacto, gerar fatos e de surpreender as pessoas.

A ideia continua sendo a principal descoberta, a inovação e a tecnologia são ferramentas e nós somos marionetes do mundo. A ciência trabalha para nos domesticar. Resistimos aos algoritmos, mas não tem sobrado espaço para as nossas vontades. Parece que estamos sufocados pelas marcas, muitos de nós estão dopados, sedados e conectados, vivendo artificialmente.

Tenho a impressão de que precisamos de espaço para respirar. Parece-me equivocado este caminho que as marcas estão adotando para nos conduzir. O caminho pode chegar a um abismo. Sinto que precisamos seguir sozinhos, temos necessidade de resgatar valores simples, como amor e paz. Precisamos reservar momentos para cultivar nossa mente, descansar e refletir sobre a vida.

Esse talvez seja o desafio para as marcas. Como elas poderão nos proporcionar experiências que preservem os valores humanos? Tudo deveria ser mais delicado, mais sensível e menos agressivo. O que vejo no Festival de Criatividade de Cannes é um verdadeiro parque de diversões, muitas luzes, música, logos incríveis e, agora, até uma roda gigante. Um momento sempre inesquecível, mas sufocante e cansativo.

Ainda bem que dura somente uma semana!

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