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Cannes Lions

20 A 24 DE JUNHO DE 2022

A visão de mundo e de mercado de Mario Testino

Fotógrafo peruano foi quem atraiu o olhar de um grande público durante sua apresentação em Cannes

Roseani Rocha
20 de junho de 2017 - 14h44

Acostumado a estar atrás das lentes das câmeras, posição na qual construiu uma carreira muito bem-sucedida como fotógrafo, o peruano Mario Testino, querido de um sem número de celebridades, marcas e, principalmente da revista Vogue, lotou o auditório Lumière no Palais des Festivals nesta terça-feira, 20, em uma conversa com Elaine Welteroth, editora chefe da Teen Vogue. Na apresentação, Testino ratificou uma fala da renomada editora chefe da Vogue americana, Anna Wintour, sobre ele. Segundo ela, “A fotografia de moda é uma mistura complicada entre arte e comércio e ninguém entende melhor disso do que Mario Testino”.

A apresentação dele começou pela arte. Testino define seu trabalho como uma reinterpretação constante de momentos que são mágicos. E quando Elaine o questionou sobre quando ele descobriu a sua própria mágica e de onde ela veio, ele a atribuiu à sua origem peruana. Não escondeu que no início se sentia um outsider nesse mercado, quando foi trabalhar em Londres, e que inicialmente tentava disfarçar sua origem. A mágica em seu trabalho, no entanto, só apareceu quando ele – em suas próprias palavras – aceitou que não era um francês, nem jamais falaria inglês como um inglês o faz. A aceitação de sua origem, latina, sul-americana especificamente, e de seu gosto pela sensualidade foi que passaram a conferir identidade e uma marca especial ao seu trabalho.

Embora tenha começado como um fotógrafo de moda, produzindo editoriais, ele afirma que tanto neste caso quanto no de seus projetos publicitários ele se coloca no lugar do cliente. “Tento entender o que a empresa quer dizer e traduzo isso. Minha essência é comercial”, assumiu, sem cerimônias.  O objetivo é trabalhar de uma forma que as pessoas percebam que a imagem é de determinada marca, mesmo se a marca não estiver lá.

Ele também deu suas percepções sobre vários outros assuntos, como o fato de estar aberto a alianças e não ter medo de entrar no universo de trabalho de outra pessoa; a ditadura da juventude na indústria da moda (“As pessoas estão esquecendo o valor da experiência”, disparou); e sua relação com as redes sociais. Nesse ponto, disse não ter sido tão rápido quanto o esperado para adotá-las, mas sabe que um dia tudo vai ser digital. “Não sabia no começo o que significava”, admitiu.

Quando muita gente passou a questioná-lo sobre o fato de ele colocar suas valiosas fotos no Instagram a resposta foi: ou posso valorizar minha marca e cobrar mais ainda pelo meu trabalho ou posso vender minha plataforma para outras pessoas exibirem também. Mas o que mais o atraiu no Instagram, disse, é expressar a sua voz diretamente ali e falar com as pessoas que admiram seu trabalho.

Ainda instigado pela moderadora a falar da diferença entre o seu ótimo trabalho numa plataforma onde “todo mundo hoje se sente fotógrafo”, Mario Testino novamente foi sagaz na resposta: “Acho fabuloso que todas as pessoas estejam fotografando, porque elas percebem como é difícil fazer uma boa foto”. Para ele, todas as pessoas que trabalham com comunicação devem se questionar sempre sobre como se comunicam com a sua audiência, ver as coisas de diferentes ângulos para manter-se interessantes.

Testino avaliou também a influência que o momento político-econômico do mundo tem sobre seu trabalho. “Sempre somos afetados, mas hoje há tanta negatividade no mundo, mas é nossa vida, não podemos vivê-la dessa forma”, declarou.

Por fim, ao falar de seu processo de trabalho, ressaltou novamente não fazer grandes distinções entre editorial e comercial. A forma como faz as coisas, nos dois casos, segundo ele, é visceral. “Não gosto de dar muitos caminhos para os clientes para não confundi-los com muitas opções. Tenho claro o caminho que ele deve tomar”, disse, enfatizando, no entanto, que essa resposta certeira só vem depois de muita conversa com os clientes e pesquisas intensas. Sua equipe mais próxima tem sete pessoas e para ele o sucesso de um trabalho é medido financeiramente. Embora a tarefa de medir resultados tenha ficado mais complexa com tantos elementos para preencher e plataformas diferentes para dar conta, confessou ser obsessivo por vendas: “Posso ser criticado por isso, mas se meus clientes estiverem bem, quem se importa?”.

E como diz que é muito difícil ficar totalmente concentrado, não costuma beber e tem vivido mais o dia que a noite, inclusive, porque está nos seus 62 anos de idade, mas se pudesse, confessou, iria para festas todos os dias. “Na América Latina, crescemos festejando. Aprendemos a dançar salsa, bolero, valsa”, disse, numa irreverência que culminou com ele fazendo selfies com a plateia.

E para quem tenha ficado em dúvida sobre ter enterrado a história de esconder sua origem, despediu-se deixando o palco com um “Gracias! Tchau”.

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