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A vitória da gambiarra

Flavio Machado, Daniela Thomas e Vik Muniz demonstram o poder que um bom storytelling teve na superação dos desafios nas cerimônias da Rio 2016

Roseani Rocha
18 de junho de 2017 - 9h13

 

O poder do storytelling, nas versões de Vik Muniz, Flavio Machado e Daniela Thomas, no palco do Palais

“Somos seres emocionais e só há memória com emoção”, lembrou Flavio Machado, sócio e vice-presidente da SRCom, no seminário denominado “O poder do storytelling para tocar o coração das pessoas”, neste domingo, 18, no Palais. Ao lado dele, estavam também Daniela Thomas e o artista plástico Vik Muniz, ela envolvida na criação da cerimônia de abertura da Olimpíada e Vik, na da Paralimpíada.

Numa apresentação, como não poderia deixar de ser, bastante visual, os três lembraram num primeiro momento de toda a descrença que havia em relação à capacidade de o Brasil sediar e organizar um evento desse porte. “Qual o valor da autoestima de toda uma nação?”, questionou Flavio Machado, mencionando também o aspecto da desmotivação interna que havia no País, por conta de todo o contexto político-econômico.

Na Paralimpíada, o desafio era quebrar o preconceito e repensar as deficiências físicas, uma vez que as pessoas podem ter alguma deficiência, mas ainda assim serem capazes de realizar coisas incríveis. Os próprios organizadores tiveram de vencer deficiências como o baixo orçamento e toda a falta de infraestrutura que conhecemos. Mas a venda de ingressos para os jogos paralímpicos foram a prova do poder do storytelling e da emoção sobre a atitude das pessoas: se antes da cerimônia de abertura as vendas de ingressos estavam devagar, depois da cerimônia elas tiveram um salto e superaram um milhão de tickets vendidos. “O coração não tem limites e todo mundo tem um coração”, foi a mensagem dos jogos paralímpicos.

A solução no problema

Três anos antes dos jogos, quando Daniela Thomas, Andrucha Waddington e Fernando Meirelles, começaram a trabalhar na abertura da Olimpíada, o cenário do país no momento deixava ainda mais evidente que tinham pela frente, de fato, um desafio de proporções olímpicas. Com um orçamento que era, segundo ela, uma fração do destinado aos jogos anteriores, em Londres, logo, perceberam, no entanto, que se trataria de “um desafio olímpico por dia”. O que passou a motivá-los e orientar o trabalho, então, foi uma frase do escritor russo Fiódor Dostoievski: “A beleza pode salvar o mundo”.

E essa beleza acabou sendo buscada na cultura popular, de onde saltou o conceito da gambiarra, de resolver as coisas não pelo modo esperado, mas pelo possível. Esse mergulho na brasilidade também trouxe à tona a beleza local e, por fim, o terceiro conceito da cerimônia olímpica era a tolerância que deve se pressupor, particularmente num país tão diverso quanto o nosso. “Uma frase da Regina Casé que adoro é ‘devemos olhar o que temos em comum, mas amar o que nos torna diferentes’”, afirmou Daniela. Outro aspecto brasileiro que era destacou – e teve de praticar no trabalho para a Olimpíada – foi a resiliência e capacidade de superação.

Para um público que encheu o auditório Lumière, Daniela mostrou como algumas ideias foram desenvolvidas tecnicamente, como a reprodução das florestas com fios de elástico e projeções, assim como a recriação dos cenários das favelas dentro do Maracanã. Outra inovação foi ter um caldeirão como pira olímpica, lembrou ela.

Sem 2º take

Vik Muniz contou que aceitou trabalhar no projeto olímpico por dois motivos: primeiro porque nunca tinha ido a nenhuma cerimônia olímpica e o segundo por se tratar justamente da Paralimpíada. Com o escritor (e cadeirante) Marcelo Rubens Paiva e o designer Fred Gelli, Vik disse que teve de lidar com a total instabilidade. “As pessoas esperavam que falhássemos”, ressaltou o artista plástico. Mas o grande desafio, para ele, era o fato de que tudo estaria em jogo naquelas três horas da cerimônia, sem a opção de um segundo take. Mas, como “somos todos deficientes em alguma extensão”, lembrou ele, o caminho foi seguir adiante, reconhecendo isso. E o resultado foram momentos tão belos quanto a dança da atleta de snowboard americana Amy Purdy ou Clodoaldo Silva vencendo a escadaria diante dele para acender a pira olímpica.

Mas para Vik Muniz o momento mais emocionante foi um com o qual ele não teve nada a ver: o silêncio das milhares de pessoas quando a veterana medalhista Marcia Malsar, de bengala e caminhando com dificuldade, deixou cair a tocha olímpica e, na sequência, a explosão do público quando ela, enfim, consegue repassar a tocha para outra atleta, após levantar e retomar a caminhada, depois de ser ajudada pelo staff do evento.

E opinião final dele sobre o trabalho, depois de todas as dificuldades e instabilidades enfrentadas: “Faria de novo um milhão de vezes!”.

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